Dienstag, 28. Februar 2012

Meu querido Govi

Absorvo-te diriamente com todos os meus sentidos. Ou quase. Enterro vezes sem conta o meu nariz no teu pescoco, nos teus cabelinhos, atrás das tuas orelhas e inspiro e expiro fundo para inalar o teu cheirinho de bebé. Deve ser a única altura na vida de uma mulher em que o cheiro a leite azedo é um dos seus/meus odores favoritos. Já várias vezes pensei que, tal como o Grenouille*, eu adorava poder concentrar o teu cheirinho num frasco, para poder te-lo para sempre. Percorro a pele macia da tua cara e dos teus pezinhos com os meus lábios e nao me canso de dar beijinhos em quase todos os centímetros do teu corpo, respeitando apenas aqueles que nem a uma Mae se admite! Deleito-me com os teus sorrisos todos os dias, especialmente às sete da manha quando salto da cama ao som do teu acordar, ainda de olhos remelados, e te vou espreitar à tua cama, e o teu sorriso desdentado nessas alturas, me parece que nao preciso de mais nada para viver. Oico incansavelmente todos os momentos do dia em que palras e derreto-me como se os teus gugu-dadás fossem a melhor música para os meus ouvidos. Portanto, quando hoje, pensei que se tivesse de abdicar de um dos meus sentidos nao saberia qual, fiquei aflita, só de pensar que algum dia podia deixar de sentir a tua pele, ouvir os teus sons de bebé, ver o teu sorriso, cheirar-te da cabeca aos pés, mesmo que seja tudo só ao nível dos e se's. O lado animal da maternidade é viciante. Agora entendo a minha Avó, que teve 13 filhos e que aparentemente, alguém contava, dizia que nao sabia viver sem bebés em casa.

* Espero que tenhas visto o filme e espero que esta parte nao pareca assim um bocado weird.

Montag, 13. Februar 2012

Meu querido Govi,

Acho que quando decidi escrever-te, nao me passou pela cabeca o quanto tu decides se eu tenho ou nao tempo para me agarrar ao teclado. Ora, pois, ultimamente, decidiste que a atencao tem de ser toda para ti, o que está certo, afinal só tens dois mesinhos e a cada dia que passa, há sempre algo novo a registar. Seja o tempo que passas a lamber as maos e a contemplar os teus dedinhos ou aquelas choradeiras que veem do nada e  que, nem eu nem o teu pai - muito mais calmo do que eu - fazemos ideia do que fazer contigo para te acalmar o que quer que seja que te está a causar sofrimento. Enquanto berras, olho para os teus olhos aflitos e sinto os meus joelhos e ficarem fraquinhos, tal é a agonia de te ver com os olhos húmidos e a cara com um misto de lágrimas e ranho nas mais diversas direccoes. Ao fim do berreiro, já estás sereno a caminho do sono qual Maggie Simpson a chuchar na tua chupeta, mas eu ainda oico a tua choradeira estridente que se me ficou nos ouvidos, que normalmente me destrói a concentracao para o que quer que seja. Há dias melhores, há dias piores. Hoje foi um dia melhor. Fomos passear de carro só os dois. Gostaste tanto do passeio que chegaste a casa com a fralda repleta da tua mostarda dijon. Foi da conducao oceano pacífico. Amanha vamos sacar uns peoes.

Freitag, 10. Februar 2012

Meu querido Govi,

O tempo que deixei de poder dormir foi substituído pelo tempo que passo a olhar para ti. Quando dormes, sao vários os músculos da cara que mexes, reviras os olhos (com que sonharás tu?), esticas e encolhes os cantos da boca, ris-te, arqueias as sobrancelhas e fechas a boca como que a dizer 'ôôôhh'. Toda a gente diz que és lindo e eu claro que te acho o bebé mais lindo de sempre, mas pergunto-me se nao será normal toda a gente dizer que os bebés, sejam eles de quem forem, sao sempre lindos. A minha capacidade de avaliar a tua beleza de bebé nao poderá nunca ser imparcial, portanto continuarei a achar que és lindo e sempre serás. Mesmo quando chegares a casa bebedo que nem um cacho e a dizeres Mae, esta é a Vanessa (estilo punk) e hoje vai dormir no meu quarto.' Se aos olhos dos outros também fores, sao mais festinhas ao ego que recebo, embora, muito sinceramente, seja absolutamente secundário se os outros te acham lindo ou nao. Entretanto, eu vou-me embriagando no teu cheirinho de bebé e derretendo-me todas as vezes em que me ofereces o teu sorriso desdentado, sejam cinco da tarde ou (com muito mais frequencia) tres horas da manha!
Um texto tao grande para te explicar como é que eu passei a sobreviver noites em claro, a tratar de ti, a aguardar pacientemente os teus arrotos, a tentar correr contra a rapidez com que os teus cocós-mostarda ameacam deixar a sua marca em segundos pela tua roupa, minha, móveis, tudo por onde passamos. Mas depois fechas os olhos e sonhas outra vez e ali fico eu, a olhar para ti, a segurar na tua maozinha sempre fria, até que caio para o lado morta de sono e me esqueco que também eu tenho mostarda espalhada pelo pijama. As minhas olheiras chegam aos joelhos...agora sei porque é que quem tem filhos envelhece mais depressa!

p.s. nota mental, preciso de procurar o teclado virtual portugues para poder fazer as pazes com o til e com o acento circunflexo.

Mittwoch, 8. Februar 2012

Meu querido Govi,

1,2,3...testing! O que eu queria mesmo era escrever-te um Diário, com a minha letra. Algo que nao só ajude a passar o tempo, (embora contigo, ele passe tao depressa) mas também para deixar registadas memórias que se vao perdendo. Ao mesmo tempo, faz-me bem a escrita permanente em portugues, nunca te esquecas da importancia do nosso património linguístico que devemos cultivar com orgulho. Faco questao que um dia mais tarde, tenhas o prazer de ler na nossa língua materna as aventuras pelas quais tu e eu vamos passando nos primeiros tempos da ua existencia, desde as noites em branco até todas as vezes - sem conta - em que, por exemplo, eu te dou beijinhos na barriga derretendo-me distraída com as tuas mil e uma expressoes de bebé lindo, e tu decides brindar-me com o teu chichi em repuxo da tua pilinha de 26 milímetros. Todas estas coisas merecem ficar registadas, pois as alegrias que me dás sao tantas que nao cabem na minha cabeca de passarinho. E o tempo nao perdoa. É, de facto, assustadora a velocidade a que cresces.
Voltando à primeira frase, escrever um diário à mao é coisa que exige muito mais tempo do que aquele que tu actualmente me queres dar! E porque nao gosto de rasurar o que escrevo, optei pela versao digital em vez da manuscrita, que com certeza te será imensamente familiar, tendo em conta a época em que vieste ao mundo. Um diário manuscrito teria muito mais charme, mas talvez perdesse na qualidade semantica e pragmática. Perdoar-me-ás, com certeza... e talvez agradecer, porque na verdade, a minha caligrafia já perdeu a exuberancia dos cadernos de duas linhas. E assim, tens direito a páginas com uma escrita transparente sem gatafunhos nem gotas daquelas que molham a escrita, sabes, aquelas do saco lacrimal... :)