Sonntag, 22. April 2012

Meu querido Govi,

Na semana passada faleceu o teu Bisavô Adam. Tinha 88 anos e estiveste com ele duas cerca de 3 vezes. Como muitos bebés, nao achas muita piada a velhinhos, dá-te para gritares quando algum fala contigo, o que me deixa um pouco envergonhada, mas que havemos de fazer... daqui a uns meses, às tantas, gritas quando vires pessoas gordas...de qualquer forma, ele não ficou triste quando ao te agarrar na mao pela primeira vez, tu desataste num pranto. Aliás, com 88 anos, já não havia praticamente nada que o chateasse, uma pessoa com a idade decide que quem tem de se adaptar são os mais novos e está bem assim. Eu achava imensa piada ao facto de ele falar com toda gente, mesmo os meus que não falam alemão, mas isso nunca foi razao para ele se comedir mais no seu discurso. E então, apanhava alguém a jeito que ainda não tinha ouvido as suas histórias de Paris e da Noruega e pronto, eu já sabia que vinham os álbuns de fotografias e as histórias que eu, o teu pai e tios, já tínhamos ouvido vezes sem fim. Mas eu não me importava. Uma hora do meu tempo, que fosse, não era nada quando eu via o brilho nos olhos dele ao recordar os seus melhores momentos. Por isso, quando toda a gente me olhava de lado por lhe estar uma vez mais a dar corda, eu não me importava. Vamos-nos mais uma vez às fotos do submarino da Noruega, claro, onde ele esteve durante a Segunda Guerra Mundial. Vamos conversar sobre Paris nos anos 40 e nas senhoras que já usavam roupa interior de algodao. E sim, Avô, claro que Faro fica no Norte de Portugal, deixa-os falar, eles não sabem. E num egoísmo também meu, ficava a ouvi-lo, contente por lhe estar a dar essa pequena alegria, ao mesmo tempo que me alimentava a mim de tempo-de-avô em idade adulta, pois os meus dois avos partiram ambos cedo demais. Já reparaste na sorte que tens em aos 35 anos ainda teres um Avô, e ainda por cima um Avô com quem podes conversar e rir, e mais do que tudo, beber uns copos? - perguntava eu ao teu pai. Agora que ele se foi, vão ser muitas as saudades. Este Avô dele que eu adoptei como meu, via no teu Pai muito dele mesmo, e qualquer pessoa notava que ele era o preferido. Sempre que nos despedíamos dele, ultimamente, eu ficava a olhar para ele a entrar em casa devagarinho e a acenar, e via-o desaparecer no fim da rua, à medida que o nosso carro se ia afastando, tentando gravar bem o último momento, pois com 88 anos, sabia que podia ser esta a última vez.
Pude novamente constatar que quando morremos, só fica a nossa carcaça. Um corpo sem alma, um rosto sem expressao, é apenas um fardo que ali está, não há vestígios da pessoa que habitou nele. Ficam-me as doces memórias dele sentado na mesa da cozinha, com o montinho dos jornais, com os óculos da ponta do nariz, a ler , enquanto esperava que nós descessemos para o pequeno-almoco. Com o colete de lã cinzento e os suspensórios com espigas de milho.



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